segunda-feira, 19 de novembro de 2007

A pergunta que não se cala...

Eu aborreço-Te ou quem sabe... Lisonjeio-Te um pouco mais através de minhas rancorosas amarguras... Minhas amarras... Meus solfejos...

Por que é tão difícil perdoar? Por que é tão difícil reconhecer que a fraqueza da carne potencializa a força do espírito? Por que me julgo incapaz antes mesmo de me capacitar? Após meu injuriado perjúrio me atormento com mais um dia de atraso... Não me abandonas, mas também não me socorres... Não percebes que o grito significa dor? Não percebes que a angústia se multiplica como um câncer bem nutrido e sadio? Não entendes que o sabor salgado das minhas lagrimas adocica minha incredulidade? Quantos questionamentos a mais serão necessários até que Tu me concedas uma fagulha do Teu precioso Amor? Ou será que no dia em que me deitei aos pés da morte fui apagado do livro sagrado que me alistara como soldado da salvação?!?! Solicito meu reaproveitamento na junta militar dos “oreias da segunda chance” para que novamente meu coração seja atravessado com Tua espada de dois gumes... Preciso novamente sentir o impacto do Teu poder... Impacto esse tão forte que para cada sorrateira lembrança, leve certeira e grosseiramente o rosto ao chão de fraqueza e estonteamento. Será que sou tão fétido assim que não sou mais digno de banhar-me em teu sangue? Será que estou assim... Assim tão cadavérico que um punhado de Tua água não me traria à vida novamente? Por que não me sinto mais ignorado do que posso compreender? Talvez por que não seja tão sábio quanto Daniel... Que lástima... Nunca serei!!!

Por que permites que eu me embarace em meio às teias das minhas iniqüidades? Por que tenho o receio de estar sendo ajudado a tecer o enxoval do meu próprio óbito? Por que os mortos são mais apresentáveis e corados do que quando em vida? Será que estou andando na direção contrária a Teus ensinamentos? Será que lançado estou ao bel-prazer dos mal-feitores que me perseguem? Ou será que a cegueira não me permite vislumbrar Tua proteção?

Gostaria derradeiramente de sentir a brisa gostosa e refrescante no abrando sublime do Teu sopro... Gostaria de me aconchegar no conforto de Teus tratos... Gostaria que inclinasses teus ouvidos onipresentes e que atentasse Tua mente onisciente aos meus adágios... Só mais uma vez... Até eximirem-me as forças eu decorarei o meu barco com ornamentos de anjos... Ouves a minha súplica? Se clamo, é porque não posso sozinho... Se grito, é porque não pude vencer-me... Sou apavorado por nascimento e discreto por necessidade... Já imagino se todos pudessem realmente entender essas “viagens” que escrevo, novamente em meio às trevas e silêncio de um quarto vazio, somente alumiado por feixes de luzes focalizados em palavras que insistem em relatar mais uma noite em claro de um dia escuro... Quiçá pudessem entender-me... Qual é a fórmula secreta, se é que existe uma, para a pés descalços atravessar uma estrada recheada de brasas, espinhos e as mais horrendas desgraças, sem que uma sujeira sequer se acalente?

Disseram-me que, dentre os outros, o prego que mais se destaca fatalmente é o martelado...